
Brenha
A embarcação de pesca do arrasto “Brenha” foi originalmente construída em 1968, nos Estaleiros Navais do Mondego, situados na Figueira da Foz. Apresentava as seguintes dimensões principais: 27,71 metros de comprimento, 7,22 metros de boca e 2,48 metros de pontal.
Foi inicialmente batizada com o nome “Facho” e registada sob a propriedade da empresa Supel – Sociedade União de Pescarias, Lda., com sede em Matosinhos, uma das mais importantes zonas piscatórias do país.
Posteriormente, a embarcação foi vendida, sendo então rebatizada como “Brenha”, passando a ostentar o número oficial FF-283-C e ficando registada no porto de matrícula da Figueira da Foz.

A noite fatidica
Na noite de 3 de Janeiro de 1996, por volta das 23 horas, o arrastão “Brenha” largou do porto de Leixões, com destino ao norte, transportando uma tripulação de 15 homens. Todos residiam no concelho de Matosinhos, com exceção de Paulo Gonçalves, residente na Póvoa de Varzim.
A companha
- MESTRE João Rebelo da Silva
- MOTORISTA José Americano
- MARINHEIROS Carlos Vinagre, Emídio Pereira, Carmindo Catarino, José Soares, Joaquim Conde, Vitor Braga, Antero Cerqueira, Salvador Maganinho, José Martins, António Farinhas, Adolfo Glória, Américo Farinha e Paulo Gonçalves.

Poucos minutos após ter deixado o porto de abrigo, a embarcação foi confrontada com um sobreaquecimento súbito do motor, o que obrigou à inversão de rumo e ao regresso a Leixões. Durante essa manobra, ao largo do Mindelo, o “Brenha” embateu numa rocha submersa, provocando um rombo no casco.
As condições atmosféricas eram especialmente adversas: noite cerrada, vento forte, chuva intensa e o mar bastante agitado. Apesar disso, não se pode descartar o erro humano como causa provável do acidente.
Perante a situação, o mestre agiu com prontidão e sangue-frio: colocou a máquina a toda a força numa tentativa de afastar o arrastão das rochas e conduzi-lo para alto mar. Esta decisão foi determinante para salvar a tripulação, pois a forte ondulação teria provavelmente atirado o “Brenha” contra os rochedos, com consequências fatais.
Foram lançados três “very lights” e enviado um SOS via rádio. Eram 23h30.
Acudiu ao apelo a motora “O Desterrado”, comandada pelo mestre David Leocádio, que, já com o quebramar de Leixões à vista, deu meia volta e, desafiando a tempestade, rumou ao encontro do arrastão em dificuldades.
Ao chegar ao local, encontrou o “Brenha” já muito abatido e inundado. Ainda foi feita uma tentativa de reboque, mas sem êxito. Restava apenas recolher a tripulação e regressar com ela a Leixões, o que foi feito com sucesso, sem perda de vidas humanas.
O “Brenha” acabou por naufragar por volta das 00h30 do dia 4 de Janeiro, a cerca de uma milha da costa, a noroeste da Guilhada.
Primeiro mergulho e o naufrágio nos dias de hoje
O local do naufrágio viria a ser visitado pela primeira vez a 27 de Junho de 1999 pelos mergulhadores Delfim Trancoso e António Carvalho, com o apoio de pescadores da freguesia de Vila Chã.
Repousa a 27 metros de profundidade, deitado sobre o lado de estibordo, com a quilha cravada num rochedo, orientada no sentido este-oeste, assente num fundo de areia. Quando começámos a explorar este local, apenas o casco permanecia intacto, dando a impressão de que o navio terá rebolado sobre o leito marinho até ser travado pela rocha onde agora descansa.
Os mastros das redes e as antenas já tinham desaparecido, e a ponte da casa do leme apresentava-se completamente amassada, como se tivesse sido calcada. Em 2003, verificámos que toda a estrutura da ponte havia sido arrancada, muito provavelmente, pela força do mar. No seu lugar, um grande buraco dava agora acesso ao interior da embarcação.
Durante o rigoroso Inverno de 2005/2006, o mar acabou por abrir quase por completo o casco. Apenas a popa do navio resistiu intacta, exibindo ainda a sua imponente hélice, que se mantém até aos dias de hoje. O restante do casco foi literalmente rasgado pela força das águas. Os mergulhadores podem, também, observar o bloco do motor, enquanto a secção da proa praticamente desapareceu, encontrando-se espalhada em pedaços nas imediações.

Este naufrágio, moldado pela força do mar e pelo passar do tempo, é um testemunho silencioso da fragilidade das embarcações perante os elementos. Apesar de se tratar de um naufrágio relativamente recente, com cerca de três décadas, a vida marinha já começou a ocupar o seu espaço, transformando o que outrora foi uma embarcação de pesca num recife artificial.

